Eu e meus primos...

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domingo, 9 de agosto de 2015

Coronel Berthier em Copacabana





Quando meu primo dava aula de História antiga, havia um texto que nunca deixava de utilizar, era o livro As origens do pensamento grego, de Jean-Pierre Vernant. É um livro deslumbrante, ao mesmo tempo de História e Filosofia, contextualizando o surgimento desta ruptura com o pensamento mítico em meio à pólis democrática efervescente e conflituosa.

Considerava e considero Vernant o camisa dez no estudo do mito na Grécia. E agora lá estava meu primo, à espera de Monsieur Vernant no belo saguão do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.

Por ser novato, havia sido escalado para buscar e ciceronear Vernant pelo Rio de Janeiro, o que para meu primo era uma honra sem par. Foi esperar o convidado ilustre com um cartaz daqueles de agência de viagem. Mas nele não estava escrito Vernant. Meu primo tinha (e tem) a mania de tentar conhecer um pouco da biografia de autores que ele considera importantes. Descobrira que antes de se tornar um dos maiores especialistas em Grécia antiga, Vernant havia sido do Partido Comunista e lutado ativamente na Resistência Francesa, de forma tão corajosa que até ganhara o posto de Coronel (em Francês "Colonel") precedendo seu codinome "Berthier".

Quando Vernant viu o cartaz "Colonel Berthier" o seu rosto se abriu em um sorriso de paz. Sabia que estava em casa. Seu primeiro pedido foi sábio: queria tomar uma água de côco em Copacabana e ver o mar. Afinal, estava ali um velho marinheiro. Antes de entrar na universidade, já na casa dos 50 e tal, Vernant refizera o pretenso caminho de Odisseus (Ulisses) pelo Mediterrâneo em um veleiro. Só depois de navegar pelo Mediterrâneo é que singrou os mares do mito. Primeiro a vida, a luta, o sonho. Depois a Academia. Ninguém se torna Jean-Pierre Vernant à toa.

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