DA SÉRIE ESPORTES NADA OLÍMPICOS
ESPORTE RADICAL NÚMERO 2: ANDANDO NAS RUAS DO RIO DE JANEIRO
Faltando exatamente 365 longos dias para as Olimpíadas de
2016, vamos comemorar à nossa maneira publicando mais um artigo da série sobre
esportes radicais na cidade de São Sebastião Flechado, apunhalado, fuzilado...
Andar nas ruas do Rio é uma arte para iniciados, dominada
por muito poucos, embora praticada por milhões. Nada de decatlo, triatlon,
super-maratona, isso tudo é fichinha perto do esporte carioca por excelência.
Para começar, nem sempre há rua. Quer dizer, rua tem, mas
essas são dos carros e dos motoristas, sem falar em ônibus, caminhões, motos,
caveirões e quejandos. Portanto, esqueça a rua e fique na sua calçadinha. Só
que nem sempre há calçada. É um lugar
tão agradável e bucólico que todos lá querem ficar: os automóveis estacionados,
os camelôs, os engraxates, as bancas de jornal, a carrocinha de pipoca ou
cachorro-quente, os ciclistas (às vezes elétricos!), os carrinhos de
transportar mercadorias e por aí vai. Alguns estabelecimentos comerciais também
acham de bom tom tomar parte da calçada com suas mesas e cadeiras. Tudo isso
torna o esporte muito mais emocionante e difícil, mas é só o começo.
Vamos dizer que exista calçada e um espacinho apertado pra
você passar entre uma banca de jornal e um vendedor de amendoim com carvão
queimando. Mas tem as poças, porque andar nessas ruas também pode ser um
esporte aquático. Depois de secarem, vem a lama para os que curtem um
cross-country. E depois da lama, o divino pó da cidade maravilhosa (ó, não vão
me interpretar errado viu?). Tem também as pedrinhas portuguesas, sempre
emocionantes e diversas. E o cocô de cachorro, em abundância, que até os
cachorros cariocas são generosos. Dizem que pisar em m... dá sorte. Tá
explicado porque os cariocas se consideram os mais sortudos do mundo.
Vamos subir um pouco, deixemos o chão de lado. Agora vamos
falar dos outros competidores, ou será que eu deveria dizer adversários? Os
outros pedestres, sim senhor. Cuidado com aquele que vem vindo reto na sua
direção digitando no celular. Ele está a fim de uma bela trombada para
despertar do seu sono digital. Céu nublado? Prepare-se para treinar a agilidade
de abaixar e desviar de guarda-chuvas de todas as cores, tá pensando que vão
fazer a gentileza de levantar para você passar? Aqui é cidade olímpica, zé
mané, isso aqui é Rio de Janeiro.
Nego fala de Paris, Londres, Nova Iorque. Vê se lá tem uma
boa e velha casca de banana pra tornar a vida mais emocionante? Se não tiver
também serve papelzinho no chão, também dá pra escorregar legal, depois é só
filmar e levar pro Faustão.
Por falar em malandragem, tem também aqueles dias
excepcionais (mas nem tanto), em que você pode correr (esporte arriscadíssimo)
atrás do sujeito que roubou seu celular (cariocas são muito comunicativos),
bateu sua carteira ou rasgou sua bolsa. Se o colega dele não tiver te derrubado
no chão antes, sabe como é, nem todo mundo joga limpo.
Tá legal, já dominaste a arte de pisar e de andar. Mas tem
sempre o ataque aéreo das pombas, o símbolo maior da paz. Não sei se o
bombardeio delas dá sorte, mas sei que dá criptococose, histoplasmose,
salmonelose, ornitose, toxoplasmose, dermatites, alergias, psitacose ... Não
vou nem falar em bala perdida, bueiros que explodem e coisas do tipo, porque
seria covardia, não é mesmo? Chupa, Nova Iorque!
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