Eu e meus primos...

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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Paz, amor e rapadura

Minha turma amada de Bruzundanga III é que me inspirou essa reflexão na aula de ontem. Professor deve tratar a turma como uma namorada. Antes de mais nada, deve seduzi-la, o tédio é crime inafiançável. Deve tratá-la bem, com educação e gentileza. Deve ouvi-la sempre. Dialogar o tempo todo. E estar sempre disposto a discutir a relação rs. Há que olhar olho no olho e ouvir a intuição. E surpreender sempre, de manhã, de tarde e de noite, porque amor de verdade é sempre novo, é sempre vivo.

Presentes, claro, muitos presentes, para demonstrar e ritualizar o afeto. E pelo gosto de ser generoso, de dar e dar-se todo. Mas o principal presente é usar o método rapadura, aquela que é doce mas não é mole não. Ajudar os estudantes a perceberem que são profissionais em formação. Que têm que trabalhar duro. Trabalho conjunto e individual. Horário é fundamental, assiduidade também, por mais careta que isso pareça. Se você chega atrasado sua namorada tem direito de se zangar. Se você falta aos encontros também. Como é que a relação vai se desenvolver desse modo? Como é que você quer pegar uma conversa pelo meio e entender do que se trata? Você fala com sua namorada e brinca de celular? Se queremos que nossa profissão seja respeitada precisamos respeitá-la. O coração do respeito é a reciprocidade. Professor não pode cobrar presença se vive faltando, nem fazer chamada se chega atrasado. E não pode passar trabalho se não for corrigir com atenção e carinho. Fazendo isso, pode cobrar feito segundo sargento do Exército. É preciso ter rebolado dialético pra ser duro e doce ao mesmo tempo.

Trabalho sim, mas este também pode ser prazeroso. Neste semestre, ao invés de responderem às tradicionais questões que normalmente pedem que eles resumam o texto que eles já leram e que o professor já explicou em sala, partimos pra travessura, pra brincadeira. Cada trabalho era um desafio. Fazer um poema sobre a Primeira República. Teve gente que tirou de letra e até caprichou na métrica. Houve quem respondesse em cordel, uma belezura. Uma conversa entre Getúlio, um industrial, um operário sindicalizado e um malandro? Moleza. Nem foi dificil também imaginar uma conversa entre Lacerda, JK e Jango sobre o golpe de 64. As imaginações, bem fundamentadas pelas leituras, correram soltas feito cavalos selvagens de comercial de cigarro de antigamente. Conceitos: bem acima da média. Em um questionário, a maioria dos alunos disse que teve que estudar mais, mas que teve mais prazer. E como diria Assis Valente:

Alegria,
pra cantar a batucada,
as morenas vão sambar
quem samba tem alegria

Minha gente,
era triste, amargurada,
inventou a batucada,
pra deixar de padecer,

Salve o prazer!
Salve o prazer!

Não há milagres. Só trabalho. É dureza. Mas quem já provou da rapadura sabe que ela é doce, doce, doce.

(Este modesto textinho é dedicado a duas turmas que conseguiram o impossível: me fizeram gostar de dar aula de Brasil III. Salve turma Rebolado Dialético de 2013-02 e salve turma Bruzundanga de 2014-01!)

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