Eu e meus primos...

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domingo, 22 de junho de 2014

Brinquedo de menina

Ao contrário de muitos pais, fico chateado por ninguém dar bola para a minha filha. É uma menina linda, saudável. E o único a jamais ter dado uma bola a ela em sete aniversários fui eu. Várias, aliás: de borracha, bem pequenas, bem grandes e até uma imitando couro e de tamanho oficial. Se nasce um menino é um festival de camisas de clube e o moleque já nasce cercado de bolas pra todo lado. Mesmo em ambientes intelectualizados, pretensamente livres de preconceitos de gênero: quem é que dá uma bola de futebol a uma menina de presente?

Pois fiquem sabendo que elas gostam muito. Tive a alegria de ter duas meninas aqui em casa por alguns dias: minha filha e sua prima, da mesma idade. De brincadeira, como deve ser, propus treiná-las no campo existente no condomínio. Como conduzir a bola, passe, chute. Coisas simples. Mais que um menino da idade delas já fez zilhões de vezes. No colégio bicho-grilo (no bom sentido) em que minha filha estuda, se dependesse dos meninos ela jamais jogaria bola no recreio. Ela e as amigas têm que pedir ao inspetor. E é claro que sofrem aquela pressão ancestral dos meninos, repetindo a frase idiota: "futebol é coisa pra homem".

Não é não. Em cinco dias de treino elas já estão passando direitinho e os chutes saem cada vez mais fortes. Pedi que chutassem com raiva, pensando nos meninos que acreditam que elas nunca vão jogar bem. Passaram a exigir duas sessões de treinamento por dia. Já começaram até a bater na orelha da bola, dando efeito. E tudo com uma alegria que parecia reprimida, guardada. Agora os olhos brilham vendo os jogos da Copa, prestando atenção na maneira com que os jogadores batem na bola. Pois a bola pode e deve ser brinquedo de menina.

Além de tentar privar metade da humanidade das delícias do futebol, há o reforço dos papéis de gênero e da ideia de que meninas são frágeis e meninos fortes, ou seja, um horror. Portanto, vamos dar bola para nossas filhas e para as filhas dos outros também. No bom sentido, pessoal, no bom sentido.

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