Eu e meus primos...

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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Mais vale um samba na avenida

Era uma vez um professor do Departamento de História da UFF chamado Marcos ... Waldemar de Freitas Reis.

Marcos Waldemar, como era chamado, era de longe o professor mais velho da casa quando meu primo ingressou na instituição, ainda como estudante. De certa forma, eram dois extremos, opostos. Meu primo era disciplinado, metódico, rigoroso, ascético. Estudava muito e amava os gregos antigos, era um bicho de biblioteca, garoto tímido, só se soltava na sala de aula ou no futebol.

Waldemar era boêmio, alegre, divertido, sempre contando uma piada na mesa do bar, cercado de alunos e alunas. Era um mulherengo assumido, adorava contar a história da prostituta grega absolvida pelos juízes diante da sua beleza. Mas não tratava de Grécia, dava aulas de História Regional, sua especialidade era a História do Rio de Janeiro. Adorava levar seus alunos, e também os alunos dos outros, quem quisesse ir, a excursões para fora do Rio, sobretudo para Ouro Preto. Para quem se interessasse, dava explicações históricas. Mas deixava a turma livre para namorar, beber e passear à vontade. Carinhosamente chamavamos aquelas excursões de MarcosTour.

Certa vez, numa das raras vezes em que meu priminho estudante sentou à mesa do bar, Waldemar explicava para uma atenta plateia de admiradores e admiradoras que não se importava de não ter jamais defendido uma tese de doutorado. É que ele era da ala de compositores de uma escola de Niterói, com o sugestivo nome de Combinados do Amor. E pontificou:

- Mais vale ver um samba meu cantado na avenida...

Meu primo, inexperiente e preconceituoso, torceu o nariz. Mal sabia ele que muitos anos depois iria lembrar do grande Marcos Waldemar, um sábio disfarçado de gaiato, que sabia que a vida é sempre maior do que qualquer coisa.


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