Eu e meus primos...

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sábado, 17 de maio de 2014

Academia

Os PhDeuses estão para os sábios assim como a margarina para a manteiga. Florestas dizimadas para que se repitam as mesmas teses e os mesmos artigos, com nomes diferentes porque os pontinhos são preciosos. Sai o chicotinho de ponta, que pode ter usos criativos e entra o implacável chicote de pontos e prazos. Em cada aluno, uma cifra em potencial (te devo essa João Alípio). A sabedoria liberta. O saber aprisiona. Muitos querendo ensinar, poucos querendo aprender. Núcleos, laboratórios, oficinas, workshops, congressos onde ninguém ouve ninguém. Traficantes de papel. Hoje cinco meninos foram assassinados na favela de Acari. "Pois é, isso acontece muito nesses lugares. Quando é mesmo a qualificação da sua aluna?". Se cuspo com vontade e asco no prato em que como é que sei como ele é preparado. Ei Fapesp, Faperj, Capes, Cnpq, vão todos se f... "A sabedoria é transmitida de boca em boca" (Brecht via Bernardo Soares). O espaço sagrado da troca e do diálogo, a sala de aula, chamado pelo medalhão de "vala comum". Barbárie. "Professor, o que é que vem depois do pós-doutorado? Um negócio chamado morte, minha filha"

2 comentários:

  1. Uma das coisas que adoro fazer é contar histórias e como não minto,invento as minhas e assim inventadas,são reproduções fieis dos fatos acontecidos.
    Sempre gostei mais do que aprendia na vida do que o que me ensinavam na escola,aliás nunca entendi direito pra que a escola serve,pelo menos não essa que conhecemos. Sempre desconfiei com certeza absoluta que o mundo era maior do que mostrava minha janela e que as pessoas,cada uma delas,eram um passeio cheio de saberes que eu tinha que conhecer.
    Assim, com a cara de pau que deus me deu,um dia parti para a minha Academia da Vida, fui me embora país a fora com 18 anos,sem um puto no bolso e cheia de curiosidades.
    Numa das minhas paradas,milhares de milhas e cidadezinhas depois da primeira carona,fui acolhida numa comunidade indígena e sem desmerecer lugar algum,talvez as lembranças do que descobri naquele lugar tenham sido as mais penetrantes.
    Ninguém por lá,meu lindo amigo,tinha diploma ou certificado que lhe assegurasse a sapiência,tudo vinha da ordem simples e natural do tempo,do olhar,do gesto preciso na hora exata. Ninguém por aquelas paragens tinha medo de que seu saber fosse roubado e por isso doava-o com generosidade quando a fogueira se acendia no fim de uma longa jornada.
    Aprendi ali porque o vento sopra e as árvores cantam,entendi a língua de deuses engraçados que se divertem e a nós,fazendo tudo ao contrário do que planejamos,descobri que mesmo sendo diferentes nos sentamos todos no mesmo degrau e que isso não tem importância alguma,se quer é notado.
    Num mundo ideal,meu surpreendente amigo,aquela fogueira em volta da qual me sentei,as estradas e histórias que amealhei, são o melhor e mais eficiente doutorado que alguém pode almejar fazer,mas isso,infelizmente e eu bem sei, num mundo ideal.
    Bom dia!

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  2. Congressos onde ninguém ouve ninguém...cheiradores de pó, traficantes de papel (nunca me esqueci). Tudo isso parece ainda mais pesado quando, no mesmo instante em que deveria estar na ginga e depois jantando com a família, estou arrumando as malas para ir para mais um desses congressos vazios...viva o lattes.
    Belíssimo texto.

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