Eu e meus primos...

Eu e meus primos...

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Antropólogo-artilheiro

Essa é do tempo em que meu primo tentava virar antropólogo.

No dia anterior, havia saído a tal matéria em que a ONU provava, por A+B, que Acari é o bairro carioca mais pobre. Era lá que estavam meu primo e seu filho.  Domingo de manhã, sacolejando num ônibus de excursão até Petrópolis com o time de futebol da Quadra de Areia, além das respectivas mulheres e muitas crianças. Subimos a serra cantando uns sambinhas, meu primo com medo de que alguém me dissesse: “ô, branquelo, é assim que se bate um pandeiro, ó...”. 

Chegamos à aprazível sede do Carangola F.C., que tem até vestiário, futebol é coisa muito séria.  Antes do jogo, a cena clássica: o time adversário em círculo, de mãos dadas, fazendo uma oração. O nosso pessoal foi mais econômico, estilo acariano: “o negócio é ninguém reclamar e cada um ajudar o outro dentro de campo”. Por amizade, deram-me a camisa treze e a honra de ficar no banco me esgoelando do lado de fora: “vaaaai... valeeeu...”. Viramos o primeiro tempo dois a um. 

No intervalo, nosso presidente, técnico e também ponta-direita me surpreende: “Quando der dez minutos me avisa...”. Começa o segundo tempo e eu entro, mas não é no lugar do presidente (já viram autoridade pedir pra sair ?) e sim substituindo um arisco e perigoso centro-avante. As chuteiras  pisam a grama petropolitana. Batem um lateral, um dos nossos sobe na cabeça pra disputar com o beque deles. Meu primo vê a bola sobrar, avança, pensa em passar a bola para alguém mais competente (qualquer um !!) mas decide arriscar a sorte. Foi um belo chute de bico de chuteira que caprichosamente entrou no canto. Três a um !!! Delírio total: o time inteiro vem abraçar o inaudito antropólogo-artilheiro que se ajoelha no meio de campo e agradece a Papai-do-Céu a glória de fazer um gol pelas cores de Acari. 

Depois, churrasco e muita, muita cerveja. A bem da verdade, acabamos perdendo de 5x3, fato que tornou nossos anfitriões muito hospitaleiros. O retorno foi uma festa no ônibus cheio, com direito a funk e pagode da pior qualidade. Dona Marlene nos esperava em Acari com um prato de feijão com arroz e uma deliciosa carne assada. Essa tal de ONU não deve saber diferenciar um lateral direito de um bandeirinha...

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