Eu e meus primos...

Eu e meus primos...

sábado, 17 de maio de 2014

Como fazer bebês em 1966...

Um priminho meu passou sua infância em um prédio de classe média-média em Botafogo. Em  meados dos anos 60, o bairro só tinha colégios, um ou outro banco e a dúbia honra de ser palco de alguns dos primeiros engarrafamentos da cidade. Os prédios não tinham playground e a gente brincava mesmo na garagem, já que o prédio era sobre pilotis. Havia pouco menos que vinte crianças, que se divertiam pelo método antigo, brincando umas com as outras, divididas novamente pelo método antigo: meninos para um lado, meninas para o outro.

Um dia a relativa paz do nosso mundinho sofreu um terremoto. Um dos nossos tinha um irmão mais velho chamado Geraldo. Geraldo parecia ser um garoto sério: cabelo cortado escovinha, óculos de aros grossos e uma atitude severa para alguém dos seus doze ou treze anos, idade inacreditável para nossa turma, que estava entre os seis e os oito. Pois bem, Geraldo, com indisfarçável solenidade, pediu que sentássemos em círculo e disse que iria nos contar como os bebês nasciam. Pediu, ou melhor, exigiu silêncio absoluto. Nem era preciso. Aos seus pés havia seis ou sete garotos de boca aberta e olhos esbugalhados. Depois do indefectível pigarro que antecede as declarações bombásticas, Geraldo compartilhou conosco o seu saber. Explicou com voz pausada e olhos intensos que não era nada fácil gerar um bebê:

- Papai e mamãe têm que ficar abraçados e totalmente parados numa mesma posição por pelo menos 24h.

Para nós que não parávamos quietos um só segundo, aquela imobilidade, durante o torturante período de um dia, tomou ares de heroísmo. Como meus pais haviam tido três filhos, minha admiração por eles aumentou enormemente. Fui até papai, que na qualidade de professor universitário e veterinário saberia me confirmar aquela informação espantosa:

- Papai, é verdade que você e mamãe tiveram que ficar parados um dia inteirinho pra cada um de nós nascer?

- Que nada, meu filho, pode ser em um segundo.

Deve ter sido a minha primeira crise existencial.

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