Eu e meus primos...

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sexta-feira, 4 de abril de 2014

Minha primeira paixão... ou por que odeio Ringo Starr

MINHA PRIMEIRA PAIXÃO... OU POR QUE ODEIO RINGO STARR 

(Marcos Alvito)

Foi um ano esquisito, no mínimo. Senão, vejamos. O ano de 1966 começou com a Ditadura Militar decretando o AI-3, abolindo as eleições diretas para governador e mandando para o espaço o pouquinho que restava de democracia. Com aquilo, os generais avisavam que tinham vindo para ficar, por muito tempo. o Bangu foi campeão em cima do Flamengo com uma acachapante vitória de três a zero em pleno Maracanã. E teria sido pior, não fosse a decisão (acertada) de Almir Pernambuquinho de sair na mão com todo mundo pra impedir uma goleada. O Rio teve uma das piores enchentes da sua história e olha que é uma competição bem dura essa. A seleção brasileira, de trapalhada em trapalhada, deu um enorme vexame na Copa da Inglaterra e foi logo eliminada. Sem falar na tristeza de assistir Pelé ser caçado em campo pelos portugueses.
A grande tragédia deste ano perigoso, não saiu nos jornais, como diz o samba. Ocorreu em um colégio do bairro de Botafogo onde, aos seis anos, eu estreava nas letras e no amor. Nas letras até que fui bem... Já no amor... Não lembro o nome dela, como eram seus cabelos, o tom de voz, a cor dos olhos. Mas tenho uma lembrança clara e precisa do sentimento de paixão que tomou conta de mim, era mais real e urgente do que o dever de casa. Lembro que a pedi em namoro. Não sei hoje o que isso significava. Andar de mãos dadas no recreio? Dividir um picolé na cantina? Ou tão simplesmente abrir um sorriso e dizer: sou teu namorado. Seja lá como for, ela topou. Ou melhor, quase. Estabeleceu apenas uma condição. Eu teria que ser parecido com o Ringo Starr. Já tinha ouvido falar no sujeito, mas sinceramente não tinha ideia de como ele era, menos ainda se eu parecia com ele. Não quero ser pedante, mas quando Shakespeare faz Hamlet se perguntar To be or not to be, com certeza ele estava pensando em situações como essa. Sem palavras, corri para casa investigar.
Como não havia Google, perguntei a mamãe. Não sem uma dose de malícia, porque escondi o motivo. Mamãe suspeitou de algo, deu um sorriso compreensivo mas fuzilou sem perdão:
- Nem um pouco, meu filho.
Preciso dizer que o meu beatle favorito sempre foi o George Harrison?

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