Todos os meus primos compartilham certas características. Todos têm nariz avantajado, torcem pelo Flamengo e vivem numa pindaíba de dar gosto. Sendo assim, não é de se estranhar que um deles tenha topado, certa vez, a tarefa suicida de trabalhar na correção das provas do vestibular da UFF. Em uma grande sala, sem ar condicionado, um grupo de companheiros de infortúnio, movido a doses cavalares de cafeína, corrigiu seis mil provas. De vez em quando um dos bravos corretores parava tudo para rir desbragadamente. Em seguida, compartilhava mais uma pérola saída da cabeça de um anônimo vestibulando atrapalhado em meio a um cipoal de datas, fatos e interpretações. Era o nosso momento de relaxamento, embora muitas vezes também tivéssemos vontade de chorar.
A certa altura, meu primo, gaiato que só, disse que seria possível até fazer um samba-enredo com o conteúdo daquelas respostas tão criativas. Um outro professor, mais taciturno, logo o desafiou: então que você o faça! Bem, vocês conhecem estes primos que tenho.. No dia seguinte, antes do início da jornada de trabalho, meu primo apresentou com toda pompa e circunstância esta obra humilde e historicamente incorreta, muito incorreta, chamada Samba do Calouro Doido:
Negrinho, ô |
Negrinho, ô | REFRÃO
O Ventre Livre |
Era um tremendo
dum caô |
Ó Seu Getulho
aí, gente !
Lá, na Romênia
africana,
Portugal invadiu
Botswana
Mas, o inglês
que não se entrega
Colonizou a
Noruega
E a tal Princesa
Áurea,
Que também não
era otária
Baixou a Lei
Sexygenária
O Estado Novo
consilhou
E na hora
entregou:
O culpado é o
professor
(repete)
Falo do milagre
brasileiro,
Caetano, Gil e
Comando Vermelho,
Por causa que a
inflação subiu
No outro dia, já
decaiu
O escravo era
livre,
E o livre era
escravo,
Só depois de
pagar pedágio
Senhor de
engenho Zé Mané,
Manda escravo
planta cana
Em plena crise
do café
(repete)
É OU NÃO É ?
Nenhum comentário:
Postar um comentário